Por Rev. Djaik Neves.

Seja pelos mistérios que envolvem a nossa própria vida, a influência da mídia ou mesmo por outros textos de difícil interpretação na Bíblia, é comum pensarmos no livro de Apocalipse como um livro complicado de ser entendido, obscuro, e até assustador. Curiosamente “apocalipse” significa revelação, o que, sem dúvida, indica que o propósito de Deus e o do apóstolo foi “mostrar” à igreja daqueles dias o que eles precisavam conhecer sobre o plano de Deus para o seu povo, especialmente em face do sofrimento pelo qual passavam por causa da fé.

Por isso, mesmo considerando a nossa dificuldade com o inegável simbolismo que prevalece em todo o livro de Apocalipse, de assustador não tem nada (pelo menos, não para a igreja). E, da edificante e animadora mensagem em todo o livro, de um modo muito especial, em seu “gran finale”, como sugere o tema que propomos aqui, temos a grata surpresa de voltar ao Éden e também de vislumbrar uma nova cidade que Deus está preparando para o seu povo.

Soa estranho, mas concordo com os que dizem que todos nós temos saudades do Éden e, podemos acrescentar que nunca nos satisfazemos com a “cidade dos homens”. Mas na expectativa de amenizar um pouco o risco da heresia, transcrevo as comoventes palavras do escritor irlandês famoso, que também gostava de se expressar por analogias (como Apocalipse). Segundo ele, o máximo que podemos experimentar nas coisas boas deste mundo é: “o aroma de uma flor que não encontramos, o eco de uma melodia que não ouvimos, notícias de um país que nunca visitamos.” (C. S. Lewis)

E o que encontramos nos últimos capítulos de Apocalipse é justamente a revelação de que Deus, no final, vai levar o homem de volta ao seu habitat original, com o jardim restaurado e, especialmente, a comunhão re-estabelecida com o Criador, visto que, Deus habitará com os homens de novo; “Deus mesmo estará com eles” e eles serão seu povo. É o que proclama uma grande voz ouvida por João, na inauguração do novo céu e da nova terra.

A restauração do jardim é a manifestação da graça de Deus, para consertar aquilo que o homem estragou; a morte que entrou pelo primeiro Adão e estragou o idílico jardim é vencida pelo segundo Adão, Jesus, que garante a renovação do “paraíso perdido” para todos aqueles que estiverem em Cristo e vivem da esperança da renovação de todas as coisas.

Mas ainda, no fechamento das “cortinas” do livro da Revelação, uma grande e majestosa cidade, com ruas de ouro e enfeitada com as pedras mais preciosas (como cantavam nossos pais) é vista por João. Diferente do jardim, a cidade não existia desde o início; ela foi inventada pelos homens e demonstra a graça comum de Deus ao permitir a continuidade da vida e da humanidade, mesmo em face ao pecado; mas também representa a tentativa do homem de sobreviver, de seguir avante sem Deus, ainda que numa perigosa comunhão uns com os outros (Torre de Babel).

A “cidade dos homens” é provisória e corrompida. A nova cidade anunciada em Apocalipse é o cumprimento do projeto de Deus, simbolizado por Jerusalém no Antigo Testamento, chamada de “a cidade do Grande Deus”. A “Revelação” prevê uma “nova Jerusalém”; esta sim, santa, redimida (resgatada, salva), eterna e, por isso, perfeita, belíssima e majestosa, em contraste com a patética tentativa humana, ao longo dos séculos, de se ajuntar, se organizar e prosperar sem o Senhor.

Aprouve ao Senhor renovar a sua esperança em nossos corações, a fim de que, mais do que qualquer coisa deste velho mundo fadado ao fracasso, aguardemos o novo Éden, o Jardim de Deus restaurado e a Nova Jerusalém, a cidade de Deus, símbolo da própria igreja reunida na presença do Criador, fruto do amor gracioso de Deus demonstrado na encarnação, vida e morte do Filho de Deus, o Cordeiro, morto e ressurreto, que dá sentido e desfecho a toda a revelação e à história.

Rev. Djaik Neves é mestre em teologia bíblica do Novo Testamento, pastor da Igreja Presbiteriana Jd. Guanabara e professor do IBAA.